Em dezembro do ano passado, o “Promessas de um Ano Bom” começou uma série nova chamada Diálogos Construtivos, que tem como objetivo relatar conversas, que de alguma forma influenciam nossa maneira de pensar, e de ver o mundo. A idéia do primeiro texto, chamado “Vá de bike”, partiu de um diálogo que tive com meu irmão sobre a influência do automóvel em nossas vidas. Preciso relatar que meu irmão – que agora está morando na cidade de Breves - está indo todos os dias de bicicleta para o trabalho.
Enquanto que, para mim, essa alternativa tornou-se praticamente impossível.
O ano passou e agora relato vários diálogos que tive com amigos, de um assunto muito mais legal, a respeito de “fazer o que se gosta”, não entendeu? Então vamos ao texto.
FAZER O QUE GOSTA
Esse ano eu consegui um estágio num jornal católico, um lugar que está servindo como uma escola para mim. Nunca aprendi tanta coisa na minha área, nunca tinha convivido com jornalistas de verdade, e descobri que o jeito que eu escrevia não adiantava muita coisa por ali. Escrever num jornal impresso é completamente diferente de escrever em qualquer outro meio.
Nem consigo descrever a alegria que fiquei quando peguei meu - pequeno e singelo – primeiro salário. Ganhei dinheiro pra fazer aquilo que eu mais gosto na vida, que é escrever, entende a satisfação?
Parece fácil, mas não é nada fácil fazer aquilo que se gosta, às vezes precisamos passar por cima de preconceito, e de valores incutidos na raiz da sociedade, e do mundo capitalista. Meus pais sempre me deixaram a vontade para escolher o curso que eu bem entendia, e para surpresa deles enveredei para o jornalismo. Até aí tudo bem, mas eis que surge o Supremo Tribunal Federal e resolve que meu diploma não serve mais pra nada, o que foi um “pé” pra dizerem que o meu curso também não servia para nada. Se jornalismo já não tinha boa fama, agora mesmo que não tem.
Confesso que fiquei completamente aturdida com a situação, mas não mudei o curso e agora, mas do que nunca não me arrependo. Consigo enxergar uma série de oportunidades novas pela frente.
Em uma tarde qualquer, conversava com uma amiga chamada Luana, e ela contava que estava muito feliz com o seu curso de administração. Disse-me que ninguém a compreendeu quando ela decidiu trocar o curso que fazia na UEPA em Belém, para estudar numa Universidade particular em Castanhal. Engraçado, as pessoas não entendem um motivo tão simples, ela não gostava do curso que fazia na UEPA. Loucos somos nós por fazer o que gostamos?
Um dia desses estava vindo da Universidade no ônibus – como sempre – lotado, e encontrei uma conhecida que estava chegando da Federal. Ela me contou que estava cursando história na UFPA e direito na UNAMA, mas que por influencia da mãe pretendia largar ou “trancar” o curso de história, para se dedicar a advocacia. Muitas vezes, as mães erram justamente por nos amar demais.
Ela disse que o que gostava mesmo era de história, mas que o mercado é muito fechado, e com o “Direito” poderia fazer um concurso público e se estabilizar financeiramente. Entendi o que estava em jogo, à força da estabilização financeira na “Era do capital”.
O sonho do brasileiro é passar em algum concurso público, pelo fato de você trabalhar pouco, e receber um dinheiro certo no final do mês. Por isso escolhem qualquer coisa, o que tiver um salário bom ta valendo. Por essa razão as defensorias públicas estão inchadas de profissionais incompetentes, sem talento e aptidão, que não dão valor nenhum para o seu ofício.
Meu irmão em outra de nossas muitas conversas, falou que nos Estados Unidos as pessoas preferem abrir seu próprio negócio, por causa da liberdade financeira, do que passar em um concurso público.
Eu até pretendo ser concursada, por que aqui, realmente não temos pra onde correr, mas desde
que seja na minha área. Nunca pensei em fazer concurso pra policia, pra repartição de não sei onde, pra tribunal de não sei o que. Não nasci pra fazer as coisas de mau gosto, em troca de dinheiro.
Por isso, fiquei triste com essa conhecida minha, História é um curso tão bonito, que por sinal, se eu tivesse tempo cursaria. Não que Direito não seja, contanto que a pessoa queira exercê-lo. Segundo ela, esta aprendendo a gostar de “Direito”, espero que ela realmente consiga e não seja infeliz.
Tem que ter coragem pra fazer o que queremos. Muitas vezes ir contra tudo e todos. Ir contra
nossos pais, nossos amigos, ultrapassar a barreira financeira, trabalhar pra pagar a Universidade, ou estudar muito pra passar na pública, quebrar os preconceitos sobre aquele curso e defender até a alma nossa escolha. Eu tive a sorte de me “encontrar” logo de primeira, mas admiro muito as pessoas que tem coragem pra trocar de curso porque não gostaram dele.
Foi sobre isso que dialoguei com meu amigo Luciano e com meu namorado Eduardo certa manhã. Até eu fiquei preocupada quando o Luciano disse que abandonou Letras na UEPA, depois de ter assistido algumas aulas. E que ele ia continuar tentando vestibular até passar em Jornalismo, que era o que realmente queria.
É complicado e ao mesmo tempo muito simples, temos que tomar decisões que só cabe a nós. Como diz o Los Hermanos “Se não sou eu, quem, mas vai decidir o que é bom pra mim? Dispenso a previsão”.
Acredito que fazer aquilo que se gosta não é importante só pra você, mas para a sociedade. Tem pessoas que não tem oportunidade, por conta da exclusão social, pessoas que matam cachorro a grito pra conseguir dinheiro, que trabalham pra ganhar o pão de cada dia, essas nem tiveram escolha. Sei que parece piegas, mas não encontrei outra maneira de dizer, se você tem uma chance, por menor que ela seja, não a desperdice.
Não conseguiria viver infeliz, mesmo que eu ganhasse muito dinheiro para isso, ou fosse o caminho mais fácil.
Um comentário:
É fato. Por conveniência, de tudo o que foi dito no teu texto, na maioria das vezes, a gente se agarra a coisas que não nos conquistam logo de cara. Lembro de ter chamado o Luciano de besta pra baixo por ele ter largado o curso. Mas cara, certo mesmo estão esses tidos como loucos.
Tá, aqui, ó. Li esse teu texto TAMBÉM. Já tinha lido outros.
XD~
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