Raissa Lennon

Raissa Lennon
"siga seus próprios sonhos, porque ninguém pode viver o sonho do outro"

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Coisas de principiante

Mãos geladas, suando frio. Dor de barriga, nervoso, agonia. Primeira vez que pega o carro, depois que tirou a carteira. Medo, muito medo. "Ah, milhares de pessoas dirigem todos os dias, porque eu não posso?", pensou. "Afinal, passei na prova do Detran, né?". "Sim e daí?" "Qualquer idiota passa na prova do Detran, aquelas voltinhas de merda ao redor no Mangueirão, não dizem nada". "A pessoa sabe dirigir é quando pega o trânsito de verdade, congenstinamento e tudo mais". Ficou um tempão com desvaneios desse tipo.

Chamou o namorado para acompanha-la, seria pior se estivesse sozinha. Primeiro passo é tirar da garagem, caramba o carro ainda estava torto. Desce o freio de mão, marcha ré, acelera devagar e vai... "Ufa! passou raspando, agora é mole, só andar". Pisa na embreagem, primeira marcha, acelera devagar, tira o pé da embreagem, coloca de novo, segunda marcha e vai.. "Ah moleza, não sei porque eu fico com medo", aliviou-se.

Olhos vidrados no trânsito, duas mãos no volante, coluna reta. Posição de quem tá começando a dirigir. Entrou na Avenida Independência, carros por todos os lados, ônibus, bicicleta. "Ai, meu Deus, me ajuda", tremeu a pobre menina. No meio da Avenida, se enrolou na marcha, a primeira não foi, já era, morreu o carro. Buzina de todos os lados, tremor, respira, volta, liga o carro, embreagem, primeira marcha, acelera e vai. Pronto. "Calma, nada de mais, vai dar certo". Duque, Unama da Alcindo Cacela, pra deixar o namorado. "Calma, que se tá nervosa, fica tranquila", disse o garoto tentando acalma-la.

Agora era ela e o carro, o carro e ela, sozinhos, sem ninguém pra ajudar. Era só descer a Alcindo Cacela, dobrar na José Malcher que chegava ao trabalho. Pois é, não viu a José Malcher e passou direto. "Merda, que rua é essa, já passei muito.. hum.. Caripunas? Meu Deus como sai daqui?" Pior do que ser motorista iniciante, é ser motorista iniciante que não sabe nada de rua, e não tem senso de direção. Dobrou a esquerda, foi por uma rua que nem lembra o nome, parou no sinal. "Ei flanelina, a José Malcher é a próxima?", perguntou. "Sem ser nessa na outra, minha senhora", informou.

Chega ao trabalho, entra com tudo na garagem do trabalho, e estaciona de uma forma deprimente. "É melhor tu ajeitar isso daí, vai ficar ruim pro outro carro sair", diz o porteiro. " Ai meu Deus que sufoco, pra mim tava bom", pensou com raiva. Fica uns 10 minutos tentando estacionar direito, não ficou direito, mais bem melhor que antes.

Resolveu, então, pedir ajuda.
"Pai, o senhor não que vim pegar o carro da mamãe aqui, eu prefiro ir de ônibus pra Unama, não quero pegar a rotatoria..."
"Não, tô no trabalho... tutututu.."

"Amor, vem pra cá pro trabalho, me pegar, preciso de companhia, pra chegar em casa, não quero dirigir sozinha... Acho que vou pra Unama de ônibus mesmo..."
"Tudo bem minha vida, já até me acostumei em ser teu guarda-costas..."

O que o amor não faz né? Serve até de cobaia, e detalhe que o guarda costas não sabe dirigir, mas consegue tranquiliza-lá. "Só quero deixar o carro da mesma forma que eu peguei", pensou a menina no trabalho. Nessas horas vale até pedir ajuda pra Nossa Senhora dos Motoristas para que nada aconteça.

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