No ônibus escuto as músicas que eu mais odeio, por conta da má educação de passageiros,
que acham que devemos escutar o que eles querem.
No ônibus ouço um jovem falar sobre os políticos e vejo rostos cansados,
e mulheres descrentes voltando de mais um dia de trabalho cruel.
No ônibus fico inquieta, escrevo, leio, durmo e acordo.
Ou não faço nada disso, porque estou em pé,
sendo amassada, pisoteada, e espremida.
No ônibus me indigno com a vida e desejo desesperadamente estar em um carro.
Só para ser mais um classe média que fica todo orgulhosinho porque comprou o carro do ano.
No ônibus penso em amor, dinheiro, sexo, trabalho e principalmente no final de semana.
De ônibus vou ao trabalho, à faculdade, ao teatro e volto pra casa ao amanhecer.
No coletivo protesto o descaso público, os políticos salafrários, e o trânsito infernal.
Sinto-me em uma jaula, presa, e sem saída.
No ônibus dou gargalhadas e beijo-me com meu namorado, quando sou repreendida por uma senhora ao lado.
Pela janela do... ônibus... vejo a cidade, as pessoas, as propagandas, os objetos, o mundo.
E vejo minha vida passar por mim. O que serei, o que sou, o que fui. Não sei. São apenas identidades.
É, felizes daqueles que não andam de ônibus. Mas, infelizes também,
pois, estes provavelmente não tiveram experiência do que realmente é a vida.
Sempre tiveram tudo na mão. Sem conquistas.
2 comentários:
só quem anda/andou de ônibus pode saborear essa sinestesia de sentimentos. lindo texto...
Obrigada Gordinho. =)
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