Raissa Lennon

Raissa Lennon
"siga seus próprios sonhos, porque ninguém pode viver o sonho do outro"

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Ônibus

Para ler ao som de rock pesado (aconselho Matanza)


No ônibus escuto as músicas que eu mais odeio, por conta da má educação de passageiros,
que acham que devemos escutar o que eles querem.
No ônibus ouço um jovem falar sobre os políticos e vejo rostos cansados,
e mulheres descrentes voltando de mais um dia de trabalho cruel.
No ônibus fico inquieta, escrevo, leio, durmo e acordo.
Ou não faço nada disso, porque estou em pé,
sendo amassada, pisoteada, e espremida.
No ônibus me indigno com a vida e desejo desesperadamente estar em um carro.
Só para ser mais um classe média que fica todo orgulhosinho porque comprou o carro do ano.
No ônibus penso em amor, dinheiro, sexo, trabalho e principalmente no final de semana.
De ônibus vou ao trabalho, à faculdade, ao teatro e volto pra casa ao amanhecer.
No coletivo protesto o descaso público, os políticos salafrários, e o trânsito infernal.
Sinto-me em uma jaula, presa, e sem saída.
No ônibus dou gargalhadas e beijo-me com meu namorado, quando sou repreendida por uma senhora ao lado.
Pela janela do... ônibus... vejo a cidade, as pessoas, as propagandas, os objetos, o mundo.
E vejo minha vida passar por mim. O que serei, o que sou, o que fui. Não sei. São apenas identidades.
É, felizes daqueles que não andam de ônibus. Mas, infelizes também,
pois, estes provavelmente não tiveram experiência do que realmente é a vida.
Sempre tiveram tudo na mão. Sem conquistas.

2 comentários:

Gordo José disse...

só quem anda/andou de ônibus pode saborear essa sinestesia de sentimentos. lindo texto...

Raissa Lennon disse...

Obrigada Gordinho. =)

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